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domingo, 5 de junho de 2011

A Experiência Espiritual



(reflexão sobre a experiência wesleyana do coração aquecido)

Um dos eixos fundantes da teologia wesleyana é a ênfase na experiência com Deus. Para Wesley, é através desse encontro do crente com Deus que a certeza de salvação, imputada pela graça soberana do altíssimo, é confirmada. Sem ela, ficamos como alguém que, ainda que tenha consciência do verdadeiro amor de Deus pelo ser humano, não consegue desfrutar da tranqüilidade resultante desse fato. A experiência espiritual tem a capacidade de imprimir no coração do crente a convicção de que o amor de Deus é tão grande por ele que nada poderá tirá-lo da presença divina.

Não obstante, essa experiência, para a teologia wesleyana, não deve estar deslocada de uma vida que responda positivamente e responsavelmente ao chamado divino. Ela não dá somente certeza, mas impõe a necessidade uma ação de resposta do crente. Isto é muito claro quando se analisa a história de Wesley e do movimento que liderou. A experiência do dia 24 de maio de 1738, tão evocada pelos metodistas do mundo inteiro, que Wesley relata em seu “diário” como um grande momento em sua vida, é elemento fecundador de uma pastoral intensamente marcada por um movimento em direção à santidade de vida e à convicção da importância do exercício da diaconia (cidadania responsável) neste mundo vitimado pela violência, dor, opressão, exclusão, pobreza, anulação da vida e afastamento de Deus.

Na compreensão metodista, a experiência com Deus exige sempre uma resposta responsável, que nos leve a um intenso trabalho de recriação da imagem de Deus na criação. Isso engloba todos os aspectos da realidade humana: político, social, econômico, institucional e relacional. Essa dinâmica axial levou o metodismo nascente a ter algumas atitudes que o diferenciam de outros movimentos religiosos presentes no século XVIII, alguns completamente afastados da realidade social, incapazes de perceber os males oriundos do acúmulo da riqueza, da sórdida ganância dos que governavam, insensíveis aos gritos de socorro de milhares de famílias que viviam à margem nos porões escuros destinados aos pobres.

Em um ambiência de revolução industrial, que além de ser notadamente vista como símbolo do progresso das sociedades, foi palco de sacrifício de centenas de milhares, vítimas do processo que se impunha e que gerou uma enorme massa de desempregados, de pobres, de ‘favelas', de ausência de dignidade no cotidiano, de analfabetos, de excluídos, os metodistas empenharam-se em lutar e propor intensamente mudanças desse cenário desolador presente, em especial, na Inglaterra, lugar em que estavam inseridos.

O metodismo surge, afirmando que a Igreja não pode se abstrair da realidade histórica. Por força da experiência com Deus, a missão da comunidade de fé é a mesma vivida por Jesus. Missão que consiste, em primeiro lugar, em ter consciência de que fomos enviados ao mundo para sinalizar o Reino de Deus. Decorrente deste, como segundo ato, mas não menor, desemboca-se na tarefa de evangelizar (dar boa notícia a) os pobres, proclamar libertação aos cativos, restauração de vista aos cegos, por em liberdade os oprimidos (injustiçados), e apregoar o ano aceitável do Senhor (ano do Jubileu), conforme nos fala o próprio Senhor em Lucas 4. 18.

Para a teologia wesleyana, transpassada pela ‘experiência do coração aquecido’, toda experiência espiritual que não gera força transformadora da realidade, não pode ser tida como legítimo encontro com Deus.


Pense nisso!











Por: Rev. Marco Antonio de Oliveira

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