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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Não temos ouro nem prata


Se Pedro nos visitasse no presente século, talvez ficasse chocado vendo não só a dicotomia ocorrida com a Igreja, assim como a diferença patrimonial, espiritual e financeira da mesma.

Jesus acabara de ressuscitar (Jo 20.19). Ao cair da tarde daquele dia, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos com as portas trancadas, veio Jesus, e disse-lhes: Paz seja convosco!

Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos discípulos junto do mar de Tiberíades... Simão Pedro em certo momento resolve pescar ao que outros também disseram: Também nós vamos contigo. Quantos homens e mulheres de Deus após a morte de um sonho, de uma oração, de um projeto, “voltam a pescar”.

Lançai a rede à direita do barco e achareis! Assim fizeram e já não podiam puxar a rede, tão grande era a quantidade de peixes. Estaria Jesus abrindo uma frente de trabalho, uma empresa que financiaria Sua Igreja Universal, o Reino de Deus?

Foram ao mercado revender? Abriram-se-lhes os olhos para que vissem o quanto poderiam enriquecer através do poder de Jesus? Não! Simplesmente não!

Pedro e João (At 3.1) sobem ao templo para a oração. Era levado um homem, coxo de nascença, que diariamente pedia esmola aos que entravam. Vendo ele a Pedro e João, implorava que lhe dessem uma esmola.

Pedro, fitando-o, juntamente com João, disse: Olha para nós. “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou”, “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!”

1. A Igreja deixou de fitar os olhos na pessoa, por não ter tempo ou interesse. O foco deixou o individual (pouco lucro) para investir no coletivo (arrecadação maior).

2. A Igreja hoje, quando diz: “Olha para nós”, nem sempre pode fazê-lo por ter condição de oferecer aquilo que lhe foi confiado por Cristo, o poder (At 1.8; Jo 14.12). Ao invés disso, muitos se apoderaram do poder, não o do alto, mas o “auto poder”.

3. A Igreja na sua grande maioria não pode repetir: “Não tenho prata nem ouro”. Junto com o pecado, escândalos, injustiças, poder, o que a Igreja através de alguns de seus representantes, mais buscou através de sua história, foi a prata e o ouro.

4. A Igreja tem tido dificuldade em dizer: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!”. Quais atitudes negativas foram incorporadas ao Sagrado?

Tanto pelo lado da igreja romana como da reforma protestante, ambas se distanciaram do encontro ocorrido entre o apóstolo (Igreja) e o paralítico (perdidos). O apóstolo enriqueceu e o paralítico não andou!

São Tomás de Aquino, em visita ao Papa, que após lhe mostrar todos os tesouros do Vaticano granjeados através dos séculos, e comentar: Já não podemos dizer como Pedro e João, não temos prata, nem ouro..., (Aquino) responde ao pontífice: É..., mas também não podemos dizer levanta-te, e anda!

Por outro lado, mês a mês, estoura escândalo sobre escândalo com líderes evangélicos envolvidos em práticas de corrupção, roubo (do sagrado), enriquecimento ilícito, etc.

Que diria Pedro, hoje (para nós), ao ver nossos templos? E quanto as nossas atitudes com os paralíticos? Quantos deles esfolados, espoliados, despojados do pouco de suas misérias, sustento, fé... ensinados a buscarem o paraíso na terra, o passageiro, o que corrói, finda...

Após o milagre, o entrevado não adquire uma biga, não sobe na vida, não vira senador, não faz aos outros o que fizeram com ele, mas, levantando-se imediatamente, entra com eles no templo, saltando e louvando a Deus.

Essa é a hora do nosso próprio ego ser testado! Pedro, a exemplo de João que aponta para o Cordeiro, Jesus, não atrai para si os holofotes do clamor e honras oferecidos por ignorância, pelo povo. Tal atitude agrega quase cinco mil almas a Igreja. Crescimento gerado pelo poder do alto, não do auto poder, que apenas faz inchar!

Vivemos num mundo e numa época de competição com o Sagrado. Prêmio para o maior cantor, intérprete, compositor, musicista, o maior evangelista, maior pregador, maior pastor, maior igreja, maior nome no cenário evangélico, etc.

Mas João 3.30 (dois mil anos se passaram!), ainda é capaz de condenar quem assim age!

“Convém que Ele cresça e que eu diminua.”

Ao atentarmos para tais mudanças, após submetê-las ao crivo da Palavra e deixarmos o Espírito Santo ensinar e agir em nós, todos, a partir de mim, estaremos voltando a prática das primeiras obras (Ap 2.5), arrependidos, para que o nosso candeeiro não seja removido.

Só assim poderemos novamente fitar os olhos nas pessoas, dizer: “Olha para nós”, afirmar: “O que tenho, isso te dou: 'Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!'”

A Igreja, do Deus Imutável, infelizmente mudou. Mas pode mudar novamente, não através da reforma, mas da volta ao início, ao primeiro amor, submetendo-se ao seu dono, o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, o Senhor.



Por: Pr. Dirceu Pereira

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